Por Carolina Chagas, com Michelle Veronese
Quando sonha em ter filhos, toda mulher logo imagina que será exemplar, batalhadora, nunca perderá a calma, resolverá os problemas da família e, de quebra, conseguirá conciliar trabalho, casa, casamento e lazer.
A psicóloga Ana Merzel Kernkraut, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, chama a atenção para o equívoco inerente a esse sonho de perfeição. “Nós não somos perfeitas. Erramos, temos sentimentos”, alerta.
E ninguém melhor que os filhos para lembrar que as mães também têm lá a sua dose de imperfeição. Algumas vezes – quando aprontam uma grande travessura, por exemplo –, eles despertam sentimentos que parecem seguir na contramão do amor materno. É o caso da raiva. Dependendo da circunstância, não há nada de errado em experimentar essa emoção, que surge justamente para mostrar o quanto as mulheres são humanas. “Você ama incondicionalmente, mas é mentira dizer que a mãe nunca teve raiva do filho em determinado momento”, afirma a psicóloga Ana Merzel.
A rotina diária também acaba levando as mulheres a achar que fazem menos do que poderiam por seus filhos – e isso dá vazão ao velho sentimento de culpa. Antes de se cobrar, é preciso lembrar que, além da preocupação com as crianças, a mãe tem todo o direito (o dever, aliás) de cuidar de si mesma. E isso não é ser imperfeita. “Qualquer mãe faz o melhor por seu filho: se sai pra trabalhar, é para poder dar uma vida com mais conforto para ele ou para se satisfazer como profissional e estar feliz”, lembra a psicóloga Mara Pusch, professora da Universidade Federal de São Paulo.
Chega de cobranças. Na verdade, a ânsia materna pela perfeição não surge à toa. “A sociedade cobra isso da mulher”, diz a psicóloga Angélica Capelari, da Universidade Metodista de São Paulo. Mas ela recomenda tomar cuidado para não cair nessa armadilha. A preocupação exagerada com os filhos talvez leve a transtornos psiquiátricos. “A mulher pode ficar ansiosa ou depressiva, achando que o que faz nunca é suficiente”, diz ela.
Assim, se em algum momento você achou que deveria ter feito diferente ou agido melhor, a solução é encarar a realidade sem neuras e cobranças exageradas. “O importante é aceitarmos que somos falhas e nos perdoarmos por isso para que a maternidade não seja um fardo”, aconselha Mara Pusch.
(Fonte: http://bebe.abril.com.br/familia/sermae/conteudo_250466.php)